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Campanha pela liberdade dos quatro de Rondônia toma fôlego às vésperas da primeira audiência

A primeira audiência do processo dos quatro ativistas presos no acampamento Manoel Ribeiro ocorrerá na próxima terça-feira, 29 de junho. A prisão arbitrária ocorreu em 14 de maio de 2021 e foi feita pela PM de Rondônia, em meio a uma campanha ilegal de cerco ao acampamento que ocorria desde outubro de 2020. Desatada pelos latifundiários locais, o cerco ilegal contou com a utilização de tropas policiais fazendo papel de guardião de latifundiários, valendo-se do uso de helicópteros durante toda a noite (em prática de tortura psicológica), armas de fogo, bombas de gás lacrimogênio e também de prisões arbitrárias com flagrantes forjados, segundo denunciou a Liga dos Camponeses Pobres (LCP). Desde então, diversas entidades democráticas, artistas, personalidades progressistas e organizações populares têm se lançado a uma intensa campanha que exige a liberdade imediata para os quatro.

Por ocasião da prisão dos ativistas Estefane, Ricardo, Ezequiel e Luiz Carlos, a campanha tem crescido e tomado proporções internacionais.

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O Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo) lançou na última sexta, 25/06, uma série de publicações na qual explicam o caso e como fazer para apoiá-los. Diz o Cebraspo: “Convocamos todos os democratas e ativistas a se posicionarem e defenderem a LCP, e exigir a liberdade imediata de Estefane, Ricardo, Ezequiel e Luiz Carlos”. A entidade também aponta a armação feita em torno do caso dos presos políticos de Rondônia, em que a imprensa pró-latifúndio de Rondônia, “junto com a PM de Rondônia, acusa os camponeses de ‘porte ilegal de armas, tentativa de homicídio, dano depredação e associação criminosa’”.

A entidade, que tem por lema “defender o direito do povo lutar por seus direitos!”, já havia organizado um Manifesto em defesa do acampamento Manoel Ribeiro e da LCP. Nesse manifesto, havia também a defesa da liberdade imediata dos camponeses presos. Ele foi repassado a diversas entidades e, através de um abaixo-assinado desse manifesto, tomou uma ampla repercussão. Até o momento, foram mais de 500 assinaturas!

Quem são os quatro camponeses presos em Rondônia

Estefane, Ricardo, Ezequiel e Luiz Carlos são camponeses apoiadores da luta pela terra que foram presos durante uma escalada de agressões feita pela Polícia Militar de Rondônia. No dia 14 de maio, os policiais atacaram de maneira covarde os camponeses em luta na cidade de Chupinguaia, onde fica localizada a fazenda Nossa Senhora Aparecida. 

A região é parte da antiga fazenda Santa Elina, palco da heroica batalha camponesa de Corumbiara, ocorrida em agosto de 1995. Nessa data, o ataque aos camponeses em luta foi feito principalmente pelos aparatos repressivos do velho Estado (fardados e em serviço), apoiados também por pistoleiros, que foram usados pra ir na frente, muitos receberam inclusive fardamento da PM para participarem da tentativa de massacre, repelida pela heroica resistência dos camponeses.

Desde então, os camponeses de Rondônia se lançaram a conquistar a justiça e o sagrado direito à terra, em uma luta que perdura já por mais de 20 anos.

Nessa disputa, os camponeses já lograram conquistar parte da fazenda, apesar das ilegalidades do latifúndio ladrão de terra de camponeses, povos indígenas e da União, que por todo período não abriu mão de uma intensa campanha de difamação, intimidação, perseguição e morte de dirigentes camponeses. As terras do acampamento Manoel Ribeiro são, portanto, as últimas parcelas da fazenda Santa Elina que os camponeses juraram conquistar.

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Artistas se posicionam

Entre as mais de 500 assinaturas que assinaram o Manifesto pela liberdade dos quatro camponeses presos, encontram-se o nome de artistas populares, como Armando Babaioff, ator e produtor, Soraya Ravenle, atriz e cantora, Isabel Teixeira, atriz e diretora, Letícia Isnard, atriz, Julia Bernat, atriz, Stella Rabello, atriz, Eliana Ferreira de Castela, atriz e poeta,Rubens Santos, Ator e Comediante, Lorena da Silva, Atriz, Isaac Bernat, ator e diretor, Jorge Carlos Amaral de Oliveira, ator e artista plástico.

Intelectuais

Entre os intelectuais, juristas, escritores e acadêmicos que subscrevem o Manifesto, estão Luiz Eduardo Soares, antropólogo, cientista político e escritor, Igor Mendes, escritor, Vladimir Safatle, professor titular da cadeira de Teoria das Ciências Humanos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), Roberto Leher, ex-reitor e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Virgínia Fontes, historiadora da Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (UFF), Eduardo Viveiros de Castro, professor de Pós-Graduação em Antropologia Social no Museu Nacional/UFRJ, Dermeval Saviani, Professor Emérito da UNICAMP, Pesquisador Emérito do CNPq e Professor Titular Colaborador Permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNICAMP, Dr. José Claudinei Lombardi, professor Titular da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Alguns juristas também assinaram como o Dr. Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do estado do Rio de Janeiro, o Dr. João Tancredo, advogado e fundador do Instituto de Defesa dos Direitos Humanos, o Dr. Jorge Luiz Souto Maior, professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). O Padre Júlio Lancelloti (Vicariato Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua) e o Dom Roque Paloschi (Presidente do Conselho Indigenista Missionário) também assinam.